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sábado, 25 de agosto de 2012

3D - As máscaras italianas

As máscaras italianas


No nosso "especial de Carnaval" de hoje vou falar um pouco das máscaras italianas, ícone máximo dos carnavais da Itália e do mundo. Sua origem remonta a tempos muito longíquos. Na pré-história, os homens das cavernas usavam máscaras em seus rituais religiosos. Os antigos egípcios, os fenícios e os gregos faziam largo usos delas nos rituais fúnebres. Na Antiguidade greco-romana eram muito difundidas no teatro e serviam seja para caracterizar personagens que para ajudar a ampliar a voz, já que naquela época ainda não existia o microfone.


Uma das inúmeras máscaras elegantes do Carnaval de Veneza (2011)


Do século XVI ao XVIII nascem as famosas máscaras da Commedia dell'Arte (uma forma de teatro improvisado que nasceu na Itália e se desenvolveu na França), com personagens que representavam usos e costumes da sociedade da época, bem como cidades e regiões, ou que satirizavam virtudes e defeitos das pessoas. Eram agrupados em três categorias: os zanni, versão dialetal de Gianni, nome muito comum entre os servos do condado lombardo-vêneto; talvez por isso representassem os servos e as classes mais baixas. Os vecchi (velhos), antagonistas, representavam os homens das classes mais altas que sempre impediam o casamento dos innamorati (apaixonados). As mais célebres são:


Arlequim: com seu característico traje de losangos coloridos e uma máscara preta, é um servo sincero que gosta de criar confusões. Seu nome é de origem alemã, Hölle König, que significa "rei do inferno". É de Bergamo, uma cidade do norte da Itália.


Balanzone: conhecido também como Doutor Balanzone, é a imagem do douto pedante e charlatão. Acha que sabe de tudo, cita muitas frases em latim em seus discursos filosóficos sem lógica. Veste uma toga usada pelos reitores da Universidade de Bolonha e quase sempre carrega livros debaixo do braço. Representa a cidade de Bolonha, conhecida como a capital da cultura, e é um dos vecchi.


Beltrame: é de Gaggiano, uma cidade da província de Milão, e representa a figura do camponês fanfarrão e tolo.


Biscegliese: seu nome é Pancrazio e é da cidade de Bisceglie, no sul da Itália. Representa o rico da vida provinciana e sua característica principal é a avareza.


Brighella: como seu nome já diz, é brigão e insolente. É amigo e conterrâneo de Arlequim. É um servo que sabe cantar, tocar e dançar e também é mentiroso, trapaceiro e engana as pessoas com muita astúcia. 


Capitan Spaventa: é de Gênova e representa um soldado sonhador, culto e justo. É forte e imponente, mas não necessariamente heróico. Usa um pomposo e extravagante uniforme militar de listras laranja e amarelas, além da capa e da espada. 


Cassandro: conhecido como Cassandro de Siena, provavelmente seu lugar de origem, é um personagem da categoria dos vecchi. Por ter sido vítima de tantas zombarias durante sua vida, quando envelheceu passou a desconfiar de tudo e de todos.


Colombina: dama de companhia de Rosaura, é uma mulher graciosa, inteligente e maliciosa. Tem uma grande paixão por Arlequim e às vezes se veste como ele, com um vestido a losangos coloridos e uma máscara preta, assumindo o nome de Arlequina. É de Veneza e surgiu somente em 1683 nas representações da Commedia dell'Arte em Paris. 


Corallina: assim como Colombina, Corallina representa a empregada cortesã audaz, maliciosa e sempre disposta a adular alguém. É cúmplice dos subterfúgios amorosos da patroa.


Coviello: é o esperto que se faz de tolo, tem astucia, é falso e habilidoso no violão e na espada. Assemelha-se a Scapino.


Fritellino: é um dos personagens mais antigos, cuja origem remonta ao teatro romano. É ágil e habilidoso, leva consigo uma espada de madeira e está quase sempre acompanhado de Franca-Trippa.


Gianduja: é a máscara que simboliza Turim. Nasceu como fantoche com o nome de Gironi (Gerolamo, no dialeto piemontês), mas teve que ser logo mudado por causa de equívocos com os nomes do doge de Gênova (Gerolamo Durazzo) e do irmão de Napoleão Bonaparte. Para evitar outros mal-entendidos, os criadores decidiram chamá-lo Gioanin d'la douja, inspirados no fato do personagem gostar de vinho (douja, no dialeto piemontês, é a jarra) ou uma homenagem a Oja, cidade natal de um dos criadores. Gianduja é um cavalheiro alegre, corajoso, amante da boa cozinha e sempre presente nas festas populares de Turim, acompanhado por sua fiel companheira, Giacometta. No Carnaval, os dois costumam passear em uma carruagem e visitar hospitais, casas de repouso ou obsequiar as autoridades da cidade, distribuindo chocolates (daí o nome do famoso chocolate: gianduia).


Giangurgolo: é uma máscara da Calábria e seu nome parece derivar de Gianni Boccalarga o Gianni Golapiena (João da Boca Larga ou João Garganta Cheia). De fato, é um personagem que fala muito e é guloso. Corteja as mulheres com uma falsa erudição barroca, mas sem sucesso por causa de sua feiúra. 


Gioppino: é uma máscara e um fantoche cuja característica física principal são três bócios que ele chama de corais e os ostenta como verdadeiras jóias. É de Zanica, uma cidade da província de Bergamo, onde vive com a esposa Margì e o filho. Como profissão, diz ser carregador e camponês mas, na verdade, prefere trabalhos ocasionais com lucro fácil e pouca fadiga. É rude mas tem bom coração, ama o vinho e é apaixonado por Margì. Apesar disso, assumiu uma imagem negativa de pessoa espertalhona e pouco confiável.


Jovem Amorosa e Jovem Amoroso: representam o ideal feminino e masculino daquele tempo. Eram personagens graciosos, dotados de inteligencia e elegancia e o principal objetivo deles era o casamento.

Meneghino: é a máscara símbolo de Milão. Meneghino, diminutivo dialetal de Domenico, é um servo de personalidade bem definida e crítico da aristocracia. No Carnaval Ambrosiano sai acompanhado de sua esposa Cecca, diminutivo de Francesca, que também é outra máscara popular da cidade.

Narcisinho: nativo de Malalbergo, uma cidadezinha entre Bolonha e Ferrara, é dotado de uma astúcia interiorana que espelha a tradição local do camponês dissimulado e espiritoso.

Pantalone: representa um velho mercador veneziano, avaro, teimoso e que reclama muito. Está sempre atrás do amor das jovens cortesãs, principalmente as damas de companhia. Às vezes aparece como pai de duas moças, Isabel e Rosaura ou Camila e Esmeraldina, difíceis de serem controladas. Segundo historiadores, seu nome deriva de São Pantaleão, do qual os venezianos eram muito devotos.

Pasquariello: é guloso, beberrão e recorre sempre ao punho para realizar suas vontades ilícitas. Colombina é sua parente.

Peppe Nappa: é a máscara carnavalesca que representa a cidade de Sciacca, na província siciliana de Agrigento. Representa um servo malicioso e preguiçoso que ama ficar na cozinha devido a sua insaciável gula. É mestre nos saltos e danças acrobáticas e seu nome deriva de nappa que no dialeto sicialino significa "remendo".

Pierrot: é a versão francesa da máscara de Pedrolino. Originalmente, era a representação do servo preguiçoso, mas inteligente, que criticava os patrões e, às vezes, fazia o contrário daquilo que pediam. Na França, adaptaram esta máscara à imagem do homem apaixonado e melancólico que toca violão para a lua. 

Polichinelo: em italiano se chama Pulcinella e é um dos símbolos da cidade de Nápoles. Personifica virtudes e vícios da sociedade napolitana e suas origens são muito antigas. Alguns historiadores dizem que é uma máscara descendente de Maccus, personagem das farsas atelanas da Antiga Roma. Mas a figura que conhecemos hoje é inspirada em Puccio d'Aniello, nome de um camponês napolitano retratado em uma pintura famosa com o rosto queimado pelo sol, o nariz adunco e uma camisa branca bem larga. É antagonista de Arlequim.

Rosaura: é a filha querida de Pantalone, muito faladeira, ciumenta, vaidosa e apaionada por Florindo que, para seu pai, é somente um nobre sem dinheiro. Colombina é sua dama de companhia, a quem confia para enviar, às escondidas, suas cartas de amor.

Rugantino: representa a popularidade da cidade de Roma, cheia de sentimentos de solidariedade e justiça. É um homem bondoso, muito esperto mas um pouco preguiçoso.

Scapino: é uma máscara derivada de Brighella e possui um caráter parecido ao deste. É um pajem trapaceiro, cínico e muito esperto que se aproveita dos fracos e das pessoas de boas maneiras, mas que tem horror da violência. Por isso escolhe escapar (verbo que deu origem a seu nome - do italiano scappare) ao invés de enfrentar os problemas. 

Scaramouche: é uma máscara que surgiu em Nápoles com o nome de Scaramuzza e que, mais tarde, foi modificado por Scaramuccia, segundo influências toscanas. Na França, onde obteve muito sucesso, foi chamado Scaramouche e teve seu caráter primitivo modificado: de um militar medroso e engraçado, passou a ser um nobre proprietário de terras.


Stenterello: é a máscara tradicional de Florença e símbolo do Carnaval e do teatro florentino. É muito faladeiro, medroso e impulsivo, mas também sábio, engenhoso e pronto a defender os mais fracos. Tem sempre uma resposta pronta e piadinhas sarcástica, expressas em dialeto florentino vernáculo.


Tabarino: seu nome deriva de tabarro, uma capa escura que alguns homens mais abastados da Emília-Romanha costumavam usar. Tabarino representava o mercador de Bolonha e possuia uma curiosa característica: começava as frases em italiano e as terminava em dialeto.


Tartaglia: a comicidade desta máscara deriva, sem muita piedade, de seus dois defeitos mais evidentes: a forte miopia e a gagueira, aliadas a um verdadeira vocação para o francasso.


Trivellino: é a mascara gêmea de Arlequim. 

Como se sabe, além do teatro, muitas destas máscaras se tornaram símbolos e fantasias de Carnaval (quem nunca viu um Pierrot, Arlequim ou Colombina em alguma festa carnavalesca?). E a elas juntaram-se mais outras máscaras famosas, tradições que não podem faltar nos Carnavais de algumas cidades italianas. São elas: Burlamacco, é a oficial do Carnaval de Viareggio (o mais famoso depois de Veneza) e representa um palhaço que provavelmente é inspirado em um personagem do Decamerão, de Giovanni Boccaccio; Farinella, do Carnaval de Putignano, é um curinga cujo nome é derivado de um alimento típico da região; e Sandrone, tipica da cidade de Módena e que representa o camponês de pouca instrução mas muito esperto.


Farinella, máscara típica do Carnaval de Putignano, na região da Puglia

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